Um belo dia, uma raposa decidiu sair de sua casa, em uma região norte da ilha de Java, e partir em direção ao sul. Ela estava determinada a encontrar a galinha dos ovos de ouro, cuja qual tanto ouvira falar quando era criança. Sua mãe lhe contava histórias e mais histórias sobre como a galinha era poderosa, e como os ovos de ouro eram belos e brilhosos.
Durante toda a sua vida, a raposa passara cansada. Estressada. Maldito stress, esse que tanto nos tormenta! Porém, ela finalmente tinha tomado uma decisão. Iria sair em busca da galinha dos ovos de ouro, para assim se tornar poderosa e ser tudo que sempre quisera ser. Iria sair em busca da paz, da calmaria, daquela brisa leve de verão.
Ela decidiu ir pro sul pois estava cansada do norte. Nascera, vivera – e agora escapou de – morrera no norte. Cansada do que, exatamente, ela não sabia. Só sentia. Sentia que tinha mais lá pra baixo. Mais vida, mais calmaria, mais paz. Paz de espírito. O que mais, exatamente, ela não sabia. Só sentia.
Encontrar a galinha dos ovos de ouro parecia uma ideia promissora. “Assim que eu encontrá-la, terei alcançado minha meta. Serei feliz, calma, e pacífica. Leve como uma pluma. Ahhhh, o ouro!”
O caminho pro sul era praticamente todo ensolarado. Estava bem quente, mas batia uma brisa leve de verão que deixava o clima bem agradável. Era rodeado de flores e pássaros cantantes. A coisa mais linda de se ver!
Porém, assim que chegou um metro adentro do caminho, a raposa pisou em uma pedrinha e cortou um dos dedos de sua pata. Doeu. “Mas que saco! Tudo parecia ir tão bem. Eu finalmente tomei a decisão de ir em busca do que eu quero, e agora não consigo mais caminhar direito. E tem todo um caminho pela frente… não sei se consigo aguentar.”
À noite, fez frio. Choveu. Caiu uma nevasca. E a raposa nem estava preparada pra isso, achou que só fazia calor ali no sul. Além disso, ela também não sabia, mas os pássaros haviam começado uma guerra contra um outro bando e agora suas canções haviam se tornado gritos de protesto.
O outono estava chegando, então as flores não estavam mais tão bonitas assim. Estavam caindo e a paisagem começando a ter tons mais escuros e terrosos. “Esse caminho não era como eu imaginava”, disse ela enquanto atravessava a floresta de Araucárias. “Eu não consigo nem enxergar o que tem na minha frente, com essas árvores gigantes atrapalhando a minha visão. Como sou capaz de prosseguir?”
O inverno veio, e com ele temperaturas de -15 graus Celsius. Mais chuva e nevasca. O trajeto inteiro havia sido instável, tendo chovido, feito frio e calor o tempo todo, às vezes até no mesmo dia. Nem a nova chegada do verão foi capaz de aumentar os ânimos do animal. Estava agora cansada e estressada, e já não aguentava mais caminhar.
“Cadê essa maldita galinha?”, reclamou ela.
E como toda boa história que se preza, nesse momento pode enxergar a ave bem na sua frente. Mas sem os ovos de ouro. A galinha apareceu bem na frente da raposa, mas sem o tal dos ovos dourados, que eram tão belos e brilhosos.
“Procure o ouro”, disse a galinha. “Os ovos, há tempo já se foram. Eles não existem mais. Mas o ouro, ele continua. Ele existe há todo instante, basta procurá-los. “
E continuou dizendo: “Ao reclamar do corte em uma das patas, e se apegar à isso, você, Dona Raposa, deixou de aprender a caminhar com as outras três patinhas que restaram.
Ao se apegar à chuva, você deixou aproveitar a água para se lavar. Quando caiu a neve, em vez de reclamar e se apegar à ela, você poderia ter usado-a a seu favor, aprendido a esquiar, e acelerado a sua chegada até mim. Deixou de catar as folhas que caíram do outono para preparar um casaco e se esquentar no inverno. Deixou de ouvir o canto dos pássaros enquanto ainda existia, de curtir o verão e apreciar a paisagem.
E chegou até mim cansada, e estressada.”
Não procurou o ouro que cada situação lhe trazia. Não procurou o ouro em cada situação que lhe acontecia. Pois saiba que nada é em vão. Tudo acontece em prol da evolução. Desafios são belos, e nos permitem brilhar toda vez que os superamos. Tudo, tem seu lado positivo e enriquecedor.
Basta, sempre, procurar o ouro.
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Foto: Utrecht – The Netherlands