O sabor de caminhar com as próprias pernas

O sabor de caminhar com as próprias pernas

De não ser filho de ninguém

De não conhecer alguém

De se meter em uma área que se tem um total de 0 contatos

Ninguém pra pedir conselho, ajuda, indicação.

O sabor de não ganhar nada na mão.

O sabor de não ser fácil, de se sentir pra trás, incapaz

O sabor de um pão no débito e outro sonho no crédito

Meu Deus, o sabor de construir algo sozinho.

Com a força da mente, um coração intensionado, e uma paixão ardente.

O sabor de não sossegar por menos, de se virar nos 30, de chorar mas aceitar

De trabalhar incansavelmente, e seguir em frente.

Que privilégio ter passado tanto perrengue!!!

Quem também sente?

O. sabor. de. crescer. no escuro. é. inigualável.

De ninguém, na intimidade, realmente saber o struggle de verdade

E então, de chegar o momento, olhar pra trás e ver a distância percorrida

A minuciosidade com que a obra foi esculpida

A grandiosidade do que se foi criado aqui dentro

A beleza de ser um só com a vida

O orgulho de ser o artista

O momentum de sentir o art de vivre no canal

Meu Deus, o gosto de construir com as próprias mãos,

pura e simplesmente,

é realmente opulente.

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Foto: Paris, França.

Piadinha de mau gosto

Rosas são vermelhas, violetas são azuis, hoje eu acordei, puta revoltuis.

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Não é todo dia que se acorda dançando pelo bosque em um dia ensolarado ao som de belos passarinhos, flutuando sob uma brisa leve matinal e com cheiro de café quentinho.

Tem dias que se acorda em um belo dia ensolarado com café quentinho passado, um passarinho ou outro cantando lá fora e uma brisa leve matinal – mas emputecida. Não se quer nem saber de dançar pela casa quem dirá pelo bosque. Parece que há um piano sendo carregado nas costas e não se acha força nem pra levantar o braço e pegar uma xícara sequer.

5 minutos sentado 5 minutos deitado. “Bora trabalhar” se resume à “bora scrollar” que se resume à “bora deitar e vegetar”

Forças obscuras do além fazem o favor de prestar uma visitinha na vizinhança da mente e ficar brincando de batata quente com a gente.

Ou será que a gente brinca de batata quente com nós mesmos?

O fato é que Mario acordou com vontade de socar o armário e sair gritando pela rua como se não houvesse amanhã.

Cansei, diz ele. Cansei dessa palhaçada chamada Mario. O autoboicote é real e ele tá ai, cai mesmo quem não quer.

O que será que dias emputecidos querem nos ensinar? Porque, assim, sabemos que não somos pessoas puta revolts. Em geral, gostamos – e muito – de dançar bosque à fora. Mas em dias como estes parece que nada faz sentido e só o que queremos é jogar tudo pro ar e sair correndo pra se encolher em um banco aleatório na baia de Hobart.

Mas agora, depois de -verdadeiramente- sentir toda essa revolta, eu tenho um palpite: piadinha de mau gosto. Neste caso, uma puta piadinha de mau gosto do universo. Tão grande que consigo imaginar perfeitamente esse cosmos rindo da minha cara, com a barriga doendo de tanto rir e ficando quase sem ar de tanta gargalhada.

“Só pra sentir o gostinho”, diz ele. “Mas ainda não”, conclui.

Puta piadinha de mau gosto, se eu te contar você nem vai acreditar.

Porém entretanto todavia e contudo, depois da tempestade sempre vem a calmaria. Bola pra frente, corre que da próxima vez é pra comer o prato todo em vez de ficar só na vontade.

Corre que lá trás vem gente, mas não esquece de desviar.

Se você, assim como eu, um dia já teve o claro sentimento de que o universo estava pregando uma peça com a sua pessoa e te fez se sentir protagonista de uma grande piadinha de mau gosto, saiba que… é nóis.

Mas saiba também que por traz de toda peça de teatro sempre tem uma narrativa, uma espécie de moral. Tente absorver toda a sabedoria que seu coraçãozinho aguentar, e aceite o fato de que o universo tem sim o poder de te colocar na posição de batata dentro do joguinho do quente. No fundo, é só uma didática alternativa de nos fazer maiores ainda e nos levar ao próximo nível de joguinho com mais, digamos assim… classe.

Mais experientes.

Não, não tente se vingar da jornada nem de ninguém a sua volta. Essa não é a mensagem. Assim, desatrelado ao sentimento de vingança, a mensagem que fica é:

um dia da caça, e outro do caçador.

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Foto: Estocolmo, Suécia.

O tal do “quem sou eu”

O que me faz ser quem eu sou? Eu sou mesmo quem eu represento ser? Quem eu quero ser?

24 horas, 7 dias da semana. 365 dias por ano, essas perguntas dão o ar de sua graça. Eu sou mesmo quem eu penso que sou? Eu sou realmente quem eu estou sendo?

Será que, quando eu tinha 17 anos, eu era mesmo quem eu realmente era? Com a mentalidade de hoje é fácil olhar para trás e apontar os dedos. Julgar quem eu fui, dizer que fiz tudo errado, se arrepender, querer voltar, nostalgia, choro, impotência, frustração, conformação. Na semana seguinte, julgar quem eu fui na semana passada, dizer que fiz tudo errado, se arrepender, querer voltar, nostalgia, choro, impotência, frustração, conformação. Daqui três meses, julgar quem eu fui há três anos, dizer que fiz t…

E assim começa a disputa do quem sou eu construtivo contra o quem sou eu destrutivo. Qual predominará as emoções daquele ser?

Esses dias aprendi que depressão é quando a gente resiste em se tornar a nova pessoa que já somos. Sim, eu repito. De acordo com o que o aprendi daquele ensinamento, a depressão aparece quando já nos tornamos uma nova pessoa mas estamos com medo de deixar de ser quem a gente era. Permanecemos no luto entre a transformação do velho para o novo.

Sem entrar no mérito da doença e da dificuldade que pode ser sair dela, e se nos trabalharmos para aumentar nossa disposição para aceitar mudanças? Não, não é fácil, pois é mais confortável permanecer infeliz no conhecido do que aceitar a chance de ser feliz no desconhecido. Porém, é um trabalho diário e eterno que – eu garanto – fica mais fácil a cada dia.

Há dois dias, resolvi aceitar a mudança que evidentemente estava acontecendo na minha vida. Fui obrigada a alterar meus planos para esse momento, e, por mais que foi super fácil aceitar esta mudança, foi difícil conviver com ela. Mais uma vez, foi difícil aceitar que eu consigo enxergar, e sei, que é possível ser feliz nesse novo desconhecido, por mais que muitas trilhas neurológicas de paciência tenham que ser construídas agora.

Mas, vou te contar uma coisa. Assim que eu decidi me desprender do controle mental de controlar o meu futuro – de controlar como as coisas vão acontecer e o que vai acontecer – e simplesmente permitir que meu corpo me mostre o caminho, frutos desse esforço já brotaram!

Agora, me sinto brotando, e com fluidez.

Porém, entretanto, contudo e todavia…… o trajeto requer sentimentos negativos. O choro, impotência, frustração, e conformação são necessários. Graças à eles, me senti obrigada a me rever e me estudar infinitas vezes até entender aonde quero chegar. Cada reflexão de dor me trouxe claridade pra chegar até o prazer.

Volte ali em cima e releia o ciclo que surge ao apontar os dedos. O quem sou eu destrutivo começa a partir do julgamento em relação ao passado, enquanto o quem sou eu construtivo começa pelo choro e adiciona reflexão + mudança em sua fórmula.

Convido você a, hoje mesmo, se policiar para não tomar a rota destrutiva e, por livre e espontânea pressão, iniciar o ciclo do quem sou eu construtivo.

Se não está conseguindo encontrar saída, a solução não é questão da mente, e sim do corpo.

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Foto: South Island – New Zealand