Torre de Babel

Come in, welcome! Vorrei un caffè, per favore. Café avec ou sain sucre? Pode ser sem açúcar, por favor. Oggi fa caldo, vero? Pois é, ouvi dizer que o sol entrou em combustão e partículas de estrela se espalharam por aí. Que loco todo esto.

Dois camundongos caminhavam pela rua. Um olhou pro outro e disse: “Eaí, já conversou com as estrelas hoje?” O segundo camundongo, espantado, respondeu: “Cumé? Conversou com as estrelas?”

“É. Olha pra elas e pergunta como elas fazem pra brilhar tanto. Todo dia eu faço isso, e todo dia elas me dão uma ideia diferente, apesar de nunca darem a resposta completa”. O outro animal, curioso que só vendo, decidiu então experimentar. Mirou a estrela mais brilhante daquela noite, fechou os olhos, e pensou na seguinte pergunta: “Como eu faço pra brilhar?”

Shine like a star, respondeu ela. “Tem que ser estrela pra brilhar”, entendeu ele.

Não importa quantas vezes o camundongo perguntasse, e a estrela respondesse, ele nunca estava satisfeito com a resposta. Achava que ela nunca o respondia, pois não o compreendia. Talvez falasse um idioma diferente, pensou ele. Porque a resposta nunca vinha no estilo “Para brilhar você deve fazer X, Y e Z”.

Qual resposta ele queria? Qual pergunta ela entendia? O que a estrela queria dizer, qual a mensagem que o camundongo queria passar? O que ela queria entender? O que ele queria expressar?

Assim é a vida. Comunicação. Expressão. Diferentes pessoas se comunicam diariamente. De diferentes maneiras. Diferentes ideias, sentimentos, momentos de vida, pensamentos. Diferentes pensamentos. Diferentes visões de mundo. Crenças variadas.

Como fazer com que D se comunique com W? E que W, que nasceu na Paraíba, entenda o que D, que nasceu nos Pampas Gaúchos, quer dizer? Como fazer com que A, que virou skatista, faça com que B, seu irmão violinista, entenda quando ele conta da manobre Ollie 180 que conseguiu semana passada?

A estrela respondeu o camundongo. Ela disse “brilhe como uma estrela”. Ela disse -como- ele tem que fazer pra brilhar. Mas não disse com as palavras que ele queria ouvir. Então o camundongo não entendeu. Não quis entender. Entendeu que só brilha quem é estrela. Deve ser o idioma, pensou ele. Deve ser a hora do dia, a religião, a cor de pele. Mas eles estavam falando a mesma coisa!

O camundongo vê o mundo de baixo, da terra. A estrela vê o mundo de cima. Lá do alto. A perspectiva dela é diferente. Não é melhor nem pior, só diferente. Mas ambos enxergam a vida de formas opostas. Mesmo assim, eles estavam falando do mesmo assunto.

Todo cuidado é pouco na hora de se comunicar. É uma crença pessoal, mas eu acredito que em todas as conversas, cada parte sai com um entendimento diferente. Cada um viu aquela situação de uma forma, absorveu o que quis absorver, e levou consigo a mensagem que mais o convinha naquele momento. É complicado. É fácil.

É simples, mas bem complexo.

Nos meus textos, 99% do que eu quero dizer não é compreendido. A pessoa mais próxima possível de mim não entendeu a mensagem que eu quis passar em um texto que eu tinha 99% de certeza que ela, pelo menos ela, ia entender. E assim é a vida. Não importa quem seja, vai ter falha na comunicação.

Essa é a graça da vida. Infinitas possibilidades existem no momento que eu me expresso. Infinitos entendimentos, lições, ensinamentos, pensamentos. Infinitos resultados e sentimentos. Não tem fim, são infinitas possibilidades. Toda vez que o camundongo falar com a estrela ela vai responder algo diferente. Ela vai dar a mesma resposta, mas ele vai entender o que ele quiser, dependendo do corte de cabelo que estiver usando, do mood do dia, da fase musical, do momentum da vez.

A tal da Torre de Babel. Como fazer com que eu te entenda? E que você me compreenda? Difícil essa, hein…

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Foto: Portofino – Italia

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