Quebrando as regras de casa

“Ela é contra as regras”

Hmm, na verdade eu vivo sob as minhas próprias regras.

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Você já parou pra pensar na diferença entre normas impostas pela natureza X normas impostas pelo homem?

Naquelas eu acredito, nessas já nem tanto…

Por mais que eu não saiba explicar à fundo (pois meus conhecimentos matemáticos são, de fato, limitados) eu sei que 2+2=4 e que há alguma explicação racional por trás disso, a qual ninguém nem ousa contestar.

Não por falta de vontade né, mas porque 2+2=4 e ponto.

Agora, (indo direto ao ponto) uma união formal de casal (lê-se casa/mento), por exemplo, eu já não diria que é uma norma imposta pela natureza.

Tem como impedir que aconteça? Escolher como e quando? Tem uma explicação lógica incontestável? Não.

Não, não é algo natural, que deve realmente acontecer simplesmente porque é assim que as coisas funcionam.

Essa é uma norma imposta pelo homem, digna de contestação e reflexão. E digna de interpretação também, na minha opinião.

Vamos lá, o que casamento significa pra você?

a. Juntar as escovas

b. Fazer uma bela cerimônia

c. Assinar um papel

d. Usar um anel

e. O enfrentar os desafios do tempo + dia-a-dia de um casal que curte a companhia um do outro

Todas as alternativas acima são corretas, você é livre pra escolher aquela que mais te representa.

Mas | eu | vou de e.

Pra mim, o significado de casamento depende do contexto, e, na minha opinião, significa escolher conscientemente abrir mão da minha individualidade para compartilhar uma parte do meu ser com alguém que eu amo, e ser grata por essa pessoa escolher se compartilhar comigo também.

É se adaptar, aceitar as diferenças, abraçar as vulnerabilidades, aproveitar a companhia, torcer pelas vitórias, superar o desafios, dar e receber amor. Do outro, pelo outro.

Para mim, não é sobre uma regra, uma ordem, um momento único que nunca vai voltar, algo que só acontece uma vez na vida.

Pode até ter uma ínfima parte minha que ache isso também (somos todos complexos ok). Mas, com certeza – para mim – não é majoritariamente sobre isso.

Eu, pessoalmente, tenho a sorte de viver um casamento com alguém querido há muito tempo, e não preciso de uma data no calendário ou um papel oficial para me dizer se sou ou não “casada”.

Sim, tá tudo mais do que muito bem precisar de uma data, querer ter uma cerimônia, achar que vai mudar algo depois do dia marcado. Acho lindo! Um dia eu também vou querer celebrar a minha união.

Mas só porque sim. Para me divertir, porque estamos afim.

Não pra seguir uma ordem, não porque é assim que tem que ser, não porque existe um relógio invisível contando um tempo supostamente limitado.

O que significa 10 anos se a vida acontece todo o dia?

Não curto falar muito sobre esse tema – principalmente em primeira pessoa – porque tem gerado bastante polêmica com os meus familiares nesse momento de pressão rs, mas sinto que preciso expressar minhas ideias porque pode ter outros aí como eu questionando essa história de ordem, e “tá na hora” e blablabla – quem disse que não vou ter filhos antes de “casar”?

Às famílias, parem de pressionar os cosanguíneos. Parem de dar tanta importância à algo que, no final das contas, o dia seguinte é só o dia seguinte! Eu sei que é porque você quer viver esse momento, mas haja paciência aí

À você que escolheu a alternativa e, continue seguindo suas próprias regras. Faça o que/quando tiver vontade, da forma que achar melhor.

À quem escolheu a/b/c ou d, você está certo e seja feliz! Siga sua visão de mundo e tenha uma vida linda ❤

Porque no final das contas, a beleza do casamento ser uma instituição criada pelo homem é a (via de regra) liberdade de escolha. Seja lá qual for a sua opção, eu vou comemorar junto contigo e me sentir realizada por você estar realizado

Agora, quando se tratar da minha liberdade de escolher, eu exijo o meu direito de exerce-la.

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Será que um dia vou mudar de opinião? Curiosa.

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Foto: Sardenha, Itália

Ménage à quatre

Eu não falo francês ainda pra saber se é verdade ou não, mas, de acordo com o oráculo Google, “ménage” significa 1. domicílio familiar, moradia, lar e 2. o conjunto de tarefas rotineiras e afazeres relacionados com a casa. Mantenha isso em mente.

Também de acordo com o Google, “indivíduo” significa não dividual, indiviso. Mas isso é mentira e eu posso provar.

Imagine você que Beyoncè e Jay-Z são pessoas reais e cheias de crise existencial como qualquer um de nós. Que eles são um casal normal, vivem escondidos nas profundezas da vida social normal de qualquer tiozão casado com filho com sonhos ainda não alcançados, e que ainda não descobriram a fórmula secreta que mistura beleza + dinheiro + fama + não necessariamente felizes + habilidade surreal pra cantar.

Imagine que Beyoncè tem uns 20 anos e conheceu Jay-Z em um rolê normal em uma festa universitária qualquer e crie seu encontro romântico perfeito a partir daqui. Os dois começaram a flertar, tudo são flores, declaração de amor no Face, pegação constrangedora na festa de família etc. Nada que um começo de namoro de outros casais apaixonados por ai não tenha tido.

O tempo passa e os dois continuam tendo um relacionamento amoroso. Se formam na faculdade e, um tempo depois, vão morar juntos.

Beyoncè e Jay-Z são duas pessoas individuais que, juntos, formam um casal. Para se formar um casal, no mínimo, precisa-se de duas pessoas. Mas, na verdade, a Beyoncè sozinha já é duas pessoas, e Jay-Z sozinho já é duas pessoas.

Juntos, eles são quatro pessoas. Wut?

O meu namorado na vida real – que não é o Jay-Z – costumava reclamar que, além de me namorar, ele namora também a minha “cabeça” (como se eu não tivesse que namorar a dele, né, mas ok). Ele reclamava que ele namorava eu & também minhas inseguranças. Que quando a gente discutia, ele tinha que conversar comigo & com meus pensamentos de dúvida/insegurança que voltavam de vez em quando.

Muitas vezes (eu diria sempre), brigas não são entre os dois indivíduos que formam o casal. Brigas podem ser entre a própria Beyoncè e suas inseguranças, que se externalizam em um evento aleatório de conflito com Jay-Z (que pode ficar inseguro e brigar com seus pensamentos também).

Um relacionamento de duas pessoas é, na verdade, um relacionamento entre quatro. Minha Alma & Meu Ego + A Alma Dele/a + O Ego Dele/a.

Morar junto, então, é um verdadeiro ménage. Ménage à quatro, uma mistura de tarefas domésticas, uma mistura de dois indivíduos individuais com inúmeros afazeres rotineiros e que juntos formam um lar.

Independente de que idade ou sexo seja você ou seu parceiro/a, estar em um relacionamento com outra pessoa é estar em um relacionamento com a cabeça dela também. Com as lutas e inseguranças dela também. É saber que, quando ela estiver brigando com você, na verdade vai estar brigando com a outra parte dela mesmo.

Indivíduos são sim divisíveis. Uma hora eu posso ser minha parte positiva, e outra hora eu posso ser minha parte negativa. E o lado positivo somado ao negativo forma um ser só, fisicamente.

Principalmente agora que Beyoncè e Jay-Z moram juntos, eles vão ter que entender que um vai namorar a insegurança do outro. Vão ter que aprender a se respeitar, a abrir espaço para a individualidade dupla de cada um, e se virar nos trinta pra fazer dar certo esse ménage à quatre.

É… complexa essa história de relacionamento amoroso.

Imagina fazer um ménage à quatre à troi?

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Nota da escritora: para qualquer pessoa que estiver lendo isso, principalmente o meu namorado atual que eu gostaria que fosse mas não é o Matthew McGonaughey: ajude em casa!!! Se você usa a sua casa tanto quanto o seu parceiro/a, divida e *cumpra* suas tarefas domésticas! Bjs 😉

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Foto: Praia da Gamboa, Bahia – Brasil