Esconde-Esconde

Sentimentos escondidos,

Hoje eu me peguei pensando sobre sentimentos escondidos. Aqueles que moram nas profundezas do coração, nas águas mais turbulentas e difíceis de navegar.

É lá que ficam as memórias, sentimentos, e emoções que não quero pensar. Nem sentir, nem me emocionar. No dia-a-dia eu não sinto, nem choro, nem rio. Apenas esqueço e tento não lembrar.

Sentimentos escondidos. Como o tempo é relativo?

Dois flamingos caminhavam no deserto em busca de água. Depois da ninhada, o bando iniciou sua jornada em direção ao lago para alimentar seus filhotes. No meio do caminho, dois flamingos se conheceram. Um percebeu o outro no meio da multidão, e seus olhares se cruzaram. Foi o que bastou. Mil sentimentos floresceram

História turbulenta. Final feliz? E o tempo levou…

E o tempo passou. Sentimentos escondidos, de onde vem e porque se escondem? É proteção? Indiferença? Escrevi mil cartas e nenhuma delas me trouxe uma resposta,

Ah, essas emoções que se escondem. Eu daria tudo pra ter um momento de conversa e entender o que elas tem a dizer. Iria eu gostar? Me decepcionar? Ter a certeza que é o que parece ser?

Vamos dançar enquanto é tempo.

Tempo… será que dá tempo? Falta quanto tempo?

Se é que um dia vou ter um momento de conversa com o tempo. O que ele quer me dizer?

Já sei a resposta mas não quero ouvir. Vou fingir que é outra coisa e curtir o sentimento que essa imaginação me traz

Se não tenho vou fingir que tem

Sentimentos escondidos? Quais dos seus apareceram?

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Foto: Céu de Kalibo, Filipinas

Cara, cadê meu carro?

Chegando em Kalibo, fechamos o olho e apontamos pra uma das 15 vans brancas paradas na frente do aeroporto. Todas iguais. Vai essa mesmo. Sem Zika, seu vírus, teu alerta ficou pra trás lá no saguão. Agora eu tô nas Filipinas.

Duas horas de van até chegar no porto. Durante o caminho, o motorista “pedia” para os 6 passageiros se espremerem enquanto as crianças iam entrando. As aulas do dia tinham acabado e a van escolar também fazia bicos de van pra turista.

Ao som de Bob Marley, um barco me levava pra lugar algum. Acordei de manhã com passagem pra Burma, mas há duas horas estava nas terras de Duterte.

Terra à vista! Aquela palmeira não me engana. Ainda tem uma hora de Tuk-Tuk até chegar no Mad Monkey. Eita, aonde eu tô? Quem é esse senhor que tá me carregando pelo pôr-do-sol mais bem colorido que esse universo já me deu?

Lá é terra, casa simples, barulho. Muito barulho. Quanto barulho se escuta todo dia. Finalmente um silêncio.

“Então, de Itaparica vocês pegam um barco até lá. De lá, são quatro horas de ônibus até a metade do caminho. Depois, pegam outro ônibus e depois um barco. Aí chegou no Morro.

De Moreré, vocês caminham pela praia até encontrar a estação dos tratores. Pega um trator ou um quadriciclo até Boipeba. Daí caminham umas horas e pegam um barco para Barra Grande. De lá, procura alguém que te leva até o Cassange”. Ô mainha, essa Bahia é de rei.

Mas cara, cadê meu carro? Ele, que é minha casa, meu porto seguro, não vai nem carregar minha mochila? Que nada. Me abandonou pra tomar gasolina no bar. Então eu vou de bicicleta. Esse é meu único meio de transporte agora mesmo.

Sem tempo, irmão. Sem. Tempo. Irmão. Eu não tenho tempo pra viver a mesma vida durante uma vida toda. Olha a quantidade de opções que existe por aí. Barco, trator, moto, trem, bicicleta, tuk-tuk (!) Quem sou eu para caminhar só com minhas pernas?

Já recrutei minhas mãos e avisei que da próxima é a vez delas. Eu sou internacionalista e é isso que internacionalistas fazem. Eles não sabem diferenciar mãos de pernas, ônibus de avião. Mas e eu que sou dentista?

Você é humano? Então pronto. Não sabe diferenciar também. Só não aprendeu ainda. A partir de agora, tá liberado se virar com o que tem e viver mais do que não convém.

Eu não sou nada. Eu estou sendo algo. Eu sou tudo. Quando me chamaram pra andar de Jeep nas montanhas deu um buggy no sistema e de início eu recusei. Me assustei. Mas depois entendi. Então é isso que o surfista sente quando anda de skate?

Sabe-se lá qual será meu meio de transporte da próxima vez que a gente conversar. Provavelmente um patinete, porque ainda tenho medo de subir naquele que é elétrico. Mas a verdade é que não importa. Eu ainda vou andar por todos. O fato é que eu achava que precisava de um carro.

Hoje eu nem lembro aonde estacionei. Acho que vendi. Me pagaram em sonhos. Ninguém resiste àquela oferta do dia tentadora né? Compre um sonho e leve dois. “Só hoje, se você levar um abridor de mão da marca Zona de Conforto, você concorre há quatro novas chances de viver algo incrível e quinhentos mil novas possibilidades em retorno”.

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Foto: Boracay Island – The Philippines