Olá, meu nome é Karina, tenho 24 anos, sou estudante de farmácia e moro em Jacarandá. Sou amiga da Kelly. Ah, eu acho que ela deveria ter feito diferente. Estava conversando com uma amiga e nós duas achamos que a Kelly está errada.
Oi, me chamo Cilene, tenho 28 anos, trabalho com tecnologia, moro em Jacarandá. A Kelly é minha irmã de alma, e nos conhecemos através do trabalho. Mas faz uns dois meses que não falo com ela. Pois é, nem eu entendi a Kelly. Namoro há 5 anos e nunca foi tão rápido que nem ela…
Eai, meu nome é Cassiano, conheci a Kelly através de rolês. Ela é sangue bom, pô, gente boa. Ah, sou designer, daqui uma semana faço 23 anos, e moro em Jacarandá, no mesmo bairro que a Kelly. Acho que cada um devia cuidar da sua própria vida. Acho que a Kelly mandou bem.
Meu nome é Róger, estudei a vida inteira com a Kelly e sempre fomos amigos. Tenho um carinho por ela mas não nos vemos há anos. Eu sou de Jacarandá mas hoje moro em Milão, tenho 27 anos e sou estilista. Deixa a garota ser feliz!
Oi, sou a Denise, tenho 25 anos e não lembro direito como eu conheci a Kelly. Acho que da vida, somos da mesma cidade. Mas tenho ela no instagram e sempre vejo os stories que ela posta. Ela terminou com o namorado, né? Ouvi dizer que estava grávida mas o cara não quis assumir. Coitada.
Oi, eu sou a Kelly, tenho 24 anos, e moro em Jacarandá, capital de Cidreira. Trabalho com T.I. e acabei de ser promovida na empresa. Tô feliz porque com esse aumento consegui alugar uma casinha pra mim perto dos meus pais e vou conseguir estar mais presente na família. Em geral, a vida tá bem. Acabei de fazer um check-up e minha saúde está ótima.
Também conheci alguém. Mas não é qualquer pessoa, é um amor diferente. Que me faz diferente, que me faz mais feliz.
Descobri recentemente que meu ex me traía. Ele é lindo, o típico galã de novela, cheio de amigos e conhecido da galera. Ele me fazia rir. Namoramos dois anos. Até que um dia recebi uma mensagem dele dizendo que estava noivo e que não podíamos ficar mais juntos. A (outra) namorada dele, que mora há uns 500km daqui, ficou grávida e eles resolveram formar uma família.
Fiquei devastada por umas duas semanas. Até começar uma aula de inglês. Até conhecer o meu professor de inglês. Foi amor à primeira vista, não sei explicar. Nunca senti isso antes.
Ele se chama Cadu, é separado, tem 33 anos, é professor e tem um filho de 5 anos. Ele é um paizão, e a criança é um amor. A mãe é presente, mas casada com outro homem. Todos ali se dão bem e se respeitam. Ele me respeita muito, e nossa aproximação foi muito natural.
Mas ele é fora do ciclo da galera. Tem gente que me apoia, mas a maioria do pessoal acha que eu estou desesperada há procura de outra pessoa, porque faz só três meses que levei um pé na bunda. O pessoal me julga porque já conheci o filho dele, porque ele é mais velho, porque sou interesseira, porque sou sei lá mais o quê.
Eu sei que, olhando de fora, pareço irresponsável. Mas eu tenho consciência do que eu tô fazendo e do que estou sentindo. Eu consigo ver diferença do meu antigo relacionamento para o atual. Eu consigo perceber o quão feliz estou e o quão bem melhor o Cadu me trata. Eu escolhi, de forma consciente, deixar acontecer tudo o que está acontecendo.
Eu tenho responsabilidade sobre os meus atos. O que eu não tenho responsabilidade, entretanto, é do que os outros vão pensar de mim. Eu não sou responsável nem pelo que falam de mim, nem pelas diferentes versões da minha história, nem por quem sabe sobre a minha vida, nem pelos julgamentos que se espalham sobre quem eu sou.
Ter responsabilidade sobre mim significa assumir a não responsabilidade sobre o que os outros pensam de mim.
No fundo todos já sabemos disso. Eu nasci ouvindo que não é para eu me importar sobre o que os outros falam ou pensam sobre a minha pessoa. Mas botar isso na prática é ooooooutra história.
Tudo isso que está acontecendo me fez pensar bastante. Ter me envolvido com o Cadu mudou a minha vida e me fez tomar diversas decisões em relação ao meu futuro. Me fez ser mais forte, bancar as minhas escolhas e encarar, principalmente, o que eu acho de mim mesma.
Ter responsabilidade sobre mim significa ser responsável pela forma como eu me enxergo, e assumir, todos os dias, a não responsabilidade sobre como as outras pessoas me enxergam.
Ter me envolvido com o Cadu me fez, ainda, perceber que ter responsabilidade sobre o nosso relacionamento também me faz ter responsabilidade sobre minhas finanças, minha saúde, minha família. Me fez ser uma pessoa tão responsável que cada dia fica mais fácil assumir a não-responsabilidade sobre a opinião alheia, em qualquer um dos assuntos da minha vida.
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Foto: Maldonado – Uruguay